Jefferson chegou à Aldeias Infantis SOS de  Caicó (RN) com apenas 10 meses. Viveu sua infância e adolescência toda como parte da família SOS. Até os seis anos, foi criado por Jacinta, sua primeira mãe social, que é quem ocupa o espaço de mãe em seu coração e com quem mantém contato até hoje.
 
Na escola, como toda criança espevitada, o menino recebia frequentes reclamações por falar demais durante as aulas. Mesmo assim, sempre foi considerado um dos melhores alunos de sua sala. “Eu não tinha a consciência de que eu estava estudando. Para mim, aprender era diversão. Eu achava legal entregar os exercícios para a professora e saber que fiz tudo certo”, relembra.
 
Aos 17, o sonho de ser médico já era grande, mas o medo de não conseguir passar no vestibular fez com que Jefferson adiasse esse desejo. Se arriscou na biomedicina, sendo aprovado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). “Eu sempre sonhei em ser médico, mas eu não fazia cursinho na época. E aos 17 anos a gente tem medo de não conseguir fazer as coisas”, conta.
 
Esse medo de não alcançar a autonomia financeira quase o levou a desistir da graduação. Como tinha estudado inglês e francês com bolsas de estudos na adolescência, pensou em largar tudo para lecionar em escolas de idiomas, o que parecia bem mais rentável na época. Sorte a dele é que Kivia, uma grande amiga e “madrinha profissional”, como gosta de frisar, o incentivou a estudar e trabalhar na área. “Em algum momento, de fato, eu pensei em largar a faculdade, mas a Kivia sempre conversava comigo e pedia para eu pensar no Henry, meu Padrinho SOS, e em como ele ficaria decepcionado”, conta.
 
Henry era o padrinho SOS de Jefferson. A relação de amizade e paternidade entre os dois se firmou quando o menino começou o curso de Francês. O padrinho fazia questão de se comunicar com ele somente em francês, para estimular o seu vocabulário. Com o passar do tempo, o afeto entre os dois foi crescendo naturalmente. E sempre que pode vai a São Paulo, cidade onde vivem Henry e Tuca, sua esposa, para visitá-los. “Eles se tornaram a minha família, são a minha referência”.

Hoje, graduado em biomedicina e mais maduro e seguro de suas capacidades graças ao apoio de Henry e Tuca, o jovem decidiu finalmente realizar seu maior sonho: se tornar médico. Está no primeiro ano do curso na mesma universidade onde cursou Biomedicina, a UFRN. "Eu comecei a
 
vida sem basicamente nada, com o tempo ganhei essas três mãezonas e esse paizão, além de estar realizando meu sonho. Nem se eu tivesse projetado minha vida, poderia ter escolhido algo mais perfeito."
 
Com um grande sorriso no rosto, Jefferson diz que pretende seguir carreira como pediatra e, um dia, montar a sua própria clínica. “Eu acho que a pediatria é uma forma de retribuir tudo o que eu recebi da Aldeias Infantis SOS na minha vida inteira”. Para todas as crianças, adolescentes e jovens, deixa um recado: “não desistam do que vocês querem. E usem o estudo como sua arma. Sempre”.