G1 – dezembro 11 2021

Centro acolhe jovens grávidas em situação de vulnerabilidade em Campinas

Projeto da ONG Aldeias Infantis SOS oferta 10 vagas e ajuda médica, psicológica e qualificadora. Objetivo é diminuir impactos sociais e econômicos para adolescentes sem rede de apoio

 

Se ser mãe já é um desafio, imagine engravidar na adolescência sem uma rede de apoio? Para ajudar jovens de Campinas (SP), a Organização Não Governamental (ONG) Aldeias Infantis SOS mantém um centro de acolhimento especializado em adolescentes em situação de vulnerabilidade social que estão gestantes na metrópole.

A ONG, que é a maior do mundo no cuidado direto à criança e ao adolescente, oferece dez vagas em Campinas, que são preenchidas de acordo com o direcionamento de organizações públicas, como o Conselho Tutelar e o Ministério Público. A iniciativa existe há cinco anos.

“Apoio, abrigo, sororidade. Me estruturou. [...] Eu tive que lutar por mim e pelo meu filho também”, diz a manicure Andressa Caroline, de 21 anos, acolhida aos 16.

A jovem perdeu a mãe quando tinha 7 meses. Sem vínculo familiar nenhum, engravidou do Noah Miguel sem planejar.

Após ser direcionada aos cuidados da ONG, recebeu assistência médica, acompanhamento para as consultas de pré-natal e outras orientações que nunca havia tido.

Gravidez precoce e pobreza

Segundo a Aldeias Infantis SOS, a gestação precoce pode induzir um ciclo de pobreza e baixa escolaridade. Dados do Fundo de População das Nações Unidas apontam que mães adolescentes ganham, em média, 24% a menos do que mulheres da mesma idade sem filhos. O fundo também indica que seis em cada dez não trabalham ou estudam.

Jorge Dantas, gestor regional do centro de acolhimento, se preocupa com este cenário. É a partir dele, inclusive, que a atuação do projeto é traçada.

"O que a gente tenta fazer é que elas se sintam realmente mães, se sintam pessoas que podem ser incluídas na sociedade. Fazer com que elas voltem para a escola. Temos que cuidar da saúde delas, da parte psicológica", diz Dantas.

No centro, além de ter a estrutura necessária para se tornar mãe, Andressa também fez cursos de informática, inglês e outros temas que a ajudaram a se qualificar para o mercado de trabalho.

Hoje, a jovem vive sozinha com o filho e alimenta o sonho de terminar os estudos e se tornar advogada.

“Quando elas saem, fazemos festa, mas com o coração apertado. Tentamos de todas as formas apoiar, mas sabemos que lá fora é diferente”, diz Dantas.

Raio-X

O Brasil registra, em média, 400 mil casos de gravidez na adolescência por ano. Só em 2020, conforme a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), 23% dos bebês que nasceram no país são de mães adolescentes.

O índice aponta uma queda com relação aos últimos dez anos, mas ainda é mais alto do que a média mundial. A preocupação é maior, justamente, no caso das meninas que não têm rede de apoio.

“Essas meninas, quando chegam para nós, a gente tem que pensar no futuro delas. Não podemos simplesmente olhar para elas como um número estatístico. Elas são pessoas”, finaliza Dantas.

​Matéria publicada pelo G1