HORA CAMPINAS – outubro 20 2022

Fotografias registram memórias e afetos de crianças que moram em Casa Lar

Projeto da Aldeia Infantis SOS Brasil em parceria com a FEAC ajuda a contar a história deles por meio das imagens colhidas em passeios e atividades

 

Por Kátia Camargo - 14 de outubro de 2022 em Colunistas

 

Cerca de 49 mil crianças e adolescentes vivem atualmente acolhidos em abrigos: fotos têm o poder de eternizar momentos e ajudam a contar histórias. - Fotos: Divulgação

"Tia, eu não tenho foto de quando eu era pequeno. Não tenho muita história”. Essa é uma das falas recorrentes que se escuta de crianças e adolescentes que moram em um abrigo ou uma Casa Lar segundo a coordenadora de serviços e pedagoga que trabalha na Aldeias Infantis, Jéssica Cunha.

O fato é que crescer distante das referências familiares é a realidade de muitas crianças do Brasil que moram em casas lares e abrigos. Segundo o Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA), cerca de 49 mil crianças e adolescentes vivem atualmente acolhidos no sistema. E, embora o acolhimento seja previsto como uma medida provisória e excepcional utilizada como forma de transição para reintegração familiar ou adoção, muitos dos acolhidos só deixam a instituição após completarem 18 anos.

As fotos têm o poder de eternizar momentos e ajudam a contar as histórias. Colo, abraço, brincadeiras, risadas, passeios, aniversários, pessoas que fazem ou fizeram parte da nossa história podem habitar esse espaço tão precioso. Foi olhando para isso que a Organização da Sociedade Civil (OSC) Aldeias Infantis SOS Brasil, que abriga atualmente 56 crianças e adolescentes em Campinas, criou o projeto Memória e Afetos em parceria com a FEAC.

 

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Como as casas lares e abrigos em geral trabalham com recursos muito limitados, o projeto investiu em equipamentos de mídia e no financiamento de passeios em grupo, como idas ao parque, ao cinema e à praia.

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“A proposta central do Memórias e Afetos é proporcionar a crianças e adolescentes registros dos momentos felizes vividos durante o período de acolhimento. Crianças que crescem fora do contexto familiar perdem muito das próprias referências”, diz a educadora social Rebeca Moraes da Silva, assistente de projetos do Programa Acolhimento Afetivo da Fundação FEAC.

 

Passeio na praia: muitas crianças e adolescentes nunca tinham visto o mar

 

Um encontro inesquecível com o mar

Um dos passeios mais emocionantes proporcionado e muito bem registrado pelo projeto Memórias e Afetos foi visitar a praia. “Muitas crianças e adolescentes nunca tinham visto o mar! Foi uma experiência inesquecível e que seguirá reverberando na vida de todos que participaram”, diz Jéssica. A viagem feita pelo grupo contou com 70 pessoas e 49 crianças, e foi para Santos (SP), no auge do verão, em janeiro deste ano.

Ela conta que a iniciativa entusiasmou crianças e adolescentes, que adquiriram o hábito de levar a câmera sempre que saem para algum passeio. “Com isso, temos criado muitas memórias felizes. Todas as crianças têm agora uma pasta de fotos na nuvem com as imagens que vão sendo registradas” diz.

 

Quando o jovem completa 18 anos deixa o abrigo levando um livro de fotos com os registros que guardou no período

 

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Como as casas lares e abrigos em geral trabalham com recursos muito limitados, o projeto investiu em equipamentos de mídia e no financiamento de passeios em grupo, como idas ao parque, ao cinema e à praia.

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“O enxoval é uma ferramenta a mais de identidade, de quem esse jovem é, da história que ele tem, dos pertences que ele possui”, diz Jéssica. “Para crianças e adolescentes que estão em serviços de acolhimento, quanto mais houver espaços para expressão e elaboração de suas histórias, mais eles se fortalecem”, conclui.

 

Kátia Camargo é jornalista e se emocionou muito ao conhecer o projeto Memórias e Afetos. Mãe do Marcos Thiago, que chegou na sua família aos 5 anos por meio da adoção e hoje tem 13 anos, lembrou que quando o filho veio conhecer a sua casa, ela e o marido Luis, espalharam porta-retratos com fotos de Marcos pela casa toda. Depois de conhecer esse projeto, também pegou o álbum de fotografias para ver a carinha dele ao conhecer o mar pela primeira vez. Ao escrever lembrou da música Felicidade, do cantor Marcelo Jeneci, que traz muitas memórias e afetos para guardar no coração. 

 

Matéria publicada no site Hora Campinas. Clique aqui para acessar.