Correio 24 Horas – outubro 25 2021

Programa aposta no potencial da juventude no mercado de trabalho

 

Desde os 9 anos, Taciane Nascimento,17, vive no Lar Pérolas de Cristo, em Salvador. Cursando o primeiro ano do segundo grau, o sonho da jovem é cursar medicina para, depois de formada, poder ajudar os irmãos e o abrigo onde mora. Enquanto esse plano não se concretiza, a jovem vai investindo em conhecimento. Há alguns meses, começou a estagiar na Defensoria Pública e realizando a formação proposta pela programa YouthCan!, realizado pela organização humanitária global Aldeias Infantis SOS. “Achei que seria chato, mas percebi que todas as aulas foram planejadas para não deixar dúvidas e o instrutor não é aquele professor que só coloca num lugar distante, ao contrário, ele é amigo e parceiro e isso faz muita diferença”, comemora.


Taciane é uma das jovens baianas contempladas pela iniciativa que, na Bahia, contemplou 20 jovens em Candeias; 50 em Lauro de Freitas e três jovens em Camaçari. Em Natal, no Rio Grande do Norte, serão 20 e em Mossoró 15. Como o próprio nome sugere, o programa acredita que a “Juventude Pode” e, por isso, a iniciativa busca lapidar o potencial da juventude por meio da capacitação profissional de pessoas entre 15 e 29 anos. Os participantes são jovens em situação de vulnerabilidade social, que já são atendidos por algum projeto na organização ou são acolhidos em uma das Casas Lares.

O projeto impacta atualmente 6.500 jovens ao redor do mundo. A América do Sul corresponde a 28,5%, com países como: Brasil, Argentina, Bolívia, Colômbia, Costa Rica, Honduras, Peru, Uruguai, El Salvador, Guatemala e México. Outro continente bastante representado é o africano, com 28,9% dos participantes originários de países como Madagascar, Nigéria, Ruanda, África do Sul, Uganda e Namíbia.

Mundo do trabalho

De acordo com o coordenador nacional do YouthCan e Empregabilidade na Aldeias Infantis SOS, Carlos Augusto dos Santos, a formação aborda assuntos relacionados ao mundo do trabalho com o objetivo de proporcionar aos jovens uma experiência rica em informações, conteúdos e vivências. “Dessa forma, conseguimos apoiá-los no processo de inclusão produtiva como orientações na construção do currículo, onde e como buscar uma vaga de emprego, como se preparar para uma entrevista de emprego, como é a rotina de um jovem trabalhador e quais são seus direitos e deveres como profissional”, explica, destacando que esses e outros temas são discutidos para que os e as jovens dos serviços possam estar e se sentir mais preparados para participar dos processos seletivos.

Para capacitar os jovens, em 2020, o programa contou com 1.473 voluntários das empresas e fundações parceiras, como a AkzoNobel, Siegwerk, Deutsche Post DHL Group, Fundaccion Mapfre e TKE.Durante a pandemia, o projeto, que funciona desde 2017 com capacitações presenciais, precisou se adequar ao ambiente online. O lado positivo da continuidade das ações nesse formato foi a possibilidade de mentorias com pessoas de outros países, propiciando inclusive, um intercâmbio cultural e linguístico. Além disso, garantiu a interação entre essas pessoas durante o período de isolamento.

Em pesquisa feita com os jovens participantes, 74% afirmaram que as interações com os voluntários e colegas ajudaram a manter o lado social ativo e a sanidade mental durante a pandemia. Além disso, as atividades trouxeram bons resultados para o desenvolvimento de habilidades: 83% dos participantes se sentiram mais positivos sobre o futuro e realizaram planos para os próximos passos de vida. 74% estão mais confiantes em suas habilidades para encontrarem um emprego e 78% se sentem mais motivados a procurarem uma oportunidade no mercado de trabalho.

Motivações

Em 2021 foi realizado uma parceria entre a Aldeias Infantis SOS no Brasil e a empresa DOW Química em Candeias, em Camaçari com a AkzoNobel e a Siegwerk em Lauro de Freitas. Nas cidades de Natal e Mossoró-RN, a turma de jovens contou com o apoio da empresa TK Elevator. Cursando a faculdade de Nutrição, em Lauro de Freitas, Graziele Santos Silva, 22, ingressou no projeto em Julho desse ano e conta que o programa terminou ajudando a resgatar um ânimo perdido desde o início da pandemia.

“Me vi discutindo temas importantes para minha vida como racismo e mercado de trabalho, além de ter conseguido voltar a sentir felicidade com o futuro porque os encontros ajudaram muito a estruturar os meus projetos de vida. Agora quero concluir meu curso para ajudar minha família”, diz. “Nos últimos tempos, empresas têm buscado desenvolver iniciativas em gestão de pessoas para fomentar a equidade entre gêneros, etnias e necessidades especiais. E, para isso, contam com o apoio de organizações da sociedade civil e movimento sociais, considerados núcleos de inteligência social”, conta Carlos Augusto.

 

Matéria publicada no Correio 24 Horas