EXAME – março 10 2021

Terceiro setor e tecnologia



Depois de um ano atípico, as organizações do terceiro setor esboçam preocupações para um cenário de lenta recuperação social e econômica e vacinação em massa para a covid-19 em 2021. A preocupação é herança de um período em que as doações corporativas para o combate à pandemia atingiram recordes. A resposta para manter a relevância - e engajamento - das ações está no ambiente digital.

A digitalização da captação de recursos deixou de ser uma tendência e passou a ser uma realidade indissociável às ONGs que viram no ambiente digital a única solução para manter arrecadações durante o período de isolamento social, segundo Edmond Sakai, diretor de relações institucionais, marketing e comunicação da Aldeias Infantis SOS Brasil, uma das ONGs mais tradicionais do país. “Os canais digitais são hoje o principal recursos para nós, e acredito que esse reflexo é visto em todas as ONGs de maior porte nacional e internacionalmente”, diz.

Uma pesquisa realizada pela Funraise, empresa que desenvolve tecnologias para captações digitais, mostra que 55% dos doadores do mundo preferem contribuir de maneira digital, com cartões de crédito ou débito. Outros métodos como transferências, carteiras digitais e mensagens de texto também aparecem na lista.

Para 2021, as ONGs apostarão na presença online e em parcerias com meios digitais de pagamento. No caso da Aldeias Infantis, a parceria será com a carteira digital PicPay e a plataforma de cashback Ame Digital, da Americanas. Sakai diz que a instituição aumentou a meta de captação por meios digitais para 50% em 2021 - e as parcerias são determinantes para isso.

“No setor em que atuamos, a ausência de taxas bancárias exorbitantes pode determinar se haverá - ou não - uma captação”, diz. Montar um sistema e trazer suporte seguro e de qualidade para as doações representa hoje de 30% a 40% de todo o orçamento da captação de recursos digitais da ONG, segundo Sakai.

A presença sólida e constante no ambiente online também é um sinônimo de transparência para as ONGs, que devem se preocupar com a prestação de contas sobre o andamento dos projetos apoiados, segundo Sakai. “Hoje, o doador é muito mais parecido com um investidor. Ele coloca capital naquela causa, mas quer ver resultados”, diz.

Foco nas pessoas
Apesar da ascensão das doações privadas, o setor ainda depende da captação vinda de pessoas físicas. "É urgente que saibamos como endereçar ações não apenas para empresas. Precisamos da colaboração da sociedade civil para avançar”, diz William Oliveira, diretor do Instituto Família Barrichello, ONG na capital paulista.

A organização também quer expandir a presença online em 2021, depois de 15 anos tendo o ambiente físico como único meio de captação. Desde 2019, o Instituto também utiliza o PicPay para receber doações.

Segundo Oliveira, os custos para a implementação de plataformas digitais são irrisórios perto do que elas têm a oferecer. “É preciso olhar pro mercado e para a demanda e entender a causa. Somente assim uma ONG decide a melhor maneira de desafiar as pessoas a colaborarem. No nosso caso, o online tem funcionado muito bem nos últimos meses”, diz.

Segundo Oliveira, criar novas plataformas que facilitem as doações também é uma estratégia para elevar as captações em 2021. “É inconcebível, nesse mundo tão rápido, que seja necessário entrar no site e fazer inúmeros processos para concluir uma doação. Tudo tem que estar a um clique de distância”, diz. O Instituto tem como meta conseguir, até o final do ano, ao menos 30% dos recursos vindos de pessoas físicas via captação digital. Hoje esse número é de apenas 10%.

                                      Matéria publicada pela Exame