novembro 29 2021

Cuidar de quem cuida: projeto acolhe adolescentes grávidas 

Aldeias Infantis SOS promove acolhimento para mães adolescentes em situação de vulnerabilidade 

 

A taxa de gestação na adolescência no Brasil atinge cerca de 400 mil casos por ano. Segundo dados da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), um em cada sete bebês nascidos no Brasil é filho de uma jovem com idade entre 10 e 19 anos. Em 2020, 23,4% do total de nascidos vivos no país eram filhos de mães adolescentes, segundo estudo da Febrasgo. Apesar do índice apresentar uma queda de 48% em relação aos últimos 10 anos, ainda é alto e está acima da média mundial, de acordo o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA). 

No Estado de São Paulo, são cerca de 54,2 mil mães nessa faixa etária. Sabendo dos desafios que as jovens enfrentam durante a gestação e para cuidar das crianças, principalmente em casos em que não existe o apoio familiar, a Aldeias Infantis SOS, maior organização de cuidado direto à criança e ao adolescente no mundo, criou um centro de acolhimento especializado em adolescentes que estão gestantes, na cidade de Campinas. Com capacidade para receber dez jovens, as vagas são preenchidas de acordo com o direcionamento de organizações públicas, como Conselho Tutelar e Ministério Público. 

Por meio desse projeto, Andressa Caroline, de 21 anos, foi acolhida aos 16. A jovem, que havia perdido o vínculo familiar quando era criança, vivia em um serviço de acolhimento quando engravidou. Com a gravidez não planejada, foi direcionada aos cuidados da Aldeias Infantis SOS. Na casa especializada para jovens como ela, recebeu assistência médica e acompanhamento para as consultadas de pré-natal. “Eu fui tratada com o zelo que nunca tive em toda a minha vida”, conta. 

Além do apoio médico, também fez cursos de informática, maternidade, inglês e diversos outros temas que a ajudaram a ser não somente uma mãe melhor, mas uma pessoa mais qualificada para o mercado de trabalho. Hoje, ela vive sozinha com o pequeno Noah e não quer ter mais filhos sem antes aprimorar suas condições financeiras. Seu sonho é abrir um centro de estética. 

As Consequências da Gravidez na Adolescência 

Para a Aldeias Infantis SOS, a gravidez na adolescência traz consequências que precisam ser trabalhadas em cinco principais temas: 

  • Escolaridade e Empregabilidade 

Para a organização humanitária, a gravidez durante esse período da vida pode induzir um ciclo de pobreza e baixa escolaridade. Segundo dados da UNFPA, mães adolescentes ganham em média 24% a menos do que mulheres da mesma idade sem filhos. O fundo também aponta que seis em cada dez não trabalham ou estudam.  

“É muito importante criar mecanismos para romper esse ciclo de falta de renda oferecendo acesso ao estudo e cursos profissionalizantes para essas jovens ganharem mais autonomia e terem condições de cuidar de uma família”, conta José Carlos Sturza de Moraes, coordenador de desenvolvimento programático das Aldeias Infantis SOS no Brasil.  

No acolhimento oferecido pela organização, por exemplo, as mães têm acesso à cursos de inglês, informática e outras áreas de capacitação.  

  • Informação 

De acordo com dados da Febrasgo, sete a cada dez jovens que engravidam nessa faixa de idade não planejaram a gestação. Segundo a Aldeias Infantis SOS, é essencial entender que a falta de planejamento familiar costuma ter relação ao acesso limitado à informação ou métodos contraceptivos adequados, além de diversos outros fatores como violências sexuais fora ou dentro da família. 

Neste cenário, oferecer informação sobre métodos contraceptivos é a melhor forma para evitar novos casos e, para os casos que já ocorreram, é fundamental gerar conhecimento sobre saúde gestacional, pré-natal, cuidados para recém-nascidos, entre outros ensinamentos fundamentais para uma gravidez saudável e sem riscos. 

“Nós oferecemos ciclos informativos, além de rodas de conversa e o acompanhamento necessário para essa fase em que elas não têm a menor ideia de como cuidar de uma criança”, conta Maria Dolores Silva, cuidadora residente no acolhimento da Aldeias Infantis SOS, que atua como Mãe Social, ajudando as jovens de forma ativa com as demandas do dia a dia. 

  • Apoio psicológico 

Tornar-se mãe tão jovem pode ser desafiador do ponto de vista psicológico. Além disso, muitas mães nessa faixa etária já vêm de um perfil de vulnerabilidade social ou maus tratos na infância que precisam ser trabalhados. 

Outro ponto, é o fato de que muitas famílias abandonam filhas que engravidam durante a adolescência, o que causa ainda mais malefícios para a saúde mental. Com essas questões, no centro de acolhimento da Aldeias Infantis SOS, as jovens têm acesso a psicólogos via CAPS (Centros de Atenção Psicossocial). 

  • Carinho e afeto 

Ser mãe na adolescência sem o apoio familiar pode causar muito medo e inseguranças. Por isso, para a Aldeias Infantis SOS, é importante que essa jovem se sinta acolhida. Para isso, o centro de apoio conta com as mães sociais, que atuam com proximidade no dia a dia das jovens, dando atenção, carinho e respaldo em tudo o que precisam, como acompanhando-as nas consultas médicas.  

No acolhimento, elas também aprendem a fazer o enxoval do bebê e exercer essas práticas que trazem a dimensão do afeto para a família que está sendo gerada. 

 

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