agosto 3 2021

Um ano após explosão em Beirute, população luta para sobreviver

Programa de Resposta à Emergência da Aldeias Infantis SOS no Líbano apoia as famílias no país, como a de Imad, que sofreu ferimentos, perdeu sua casa, seu emprego em razão do desastre 



Em 4 de agosto de 2020, uma grande explosão atingiu o porto da capital libanesa, Beirute, matando mais de 200 pessoas e ferindo pelo menos 2.600. Além disso, a tragédia causou enormes danos aos prédios e bairros próximos, deixando milhares de pessoas sem casa. 

Atualmente, o Líbano está passando por uma crise financeira que, de acordo com dados do Banco Mundial, está entre as três piores da história mundial (analisando a partir do ano de 1800), em termos de seus efeitos sobre a vida da população. Desde 2019, a moeda perdeu mais de 90% de seu valor. A inflação está em seus níveis mais altos, fazendo com que os preços de importação aumentem em todos os setores, incluindo alimentos e medicamentos. Também há uma grande escassez de remédios, combustível e eletricidade. 

Para apoiar as famílias em Beirute, a nossa organização iniciou um programa de emergência que oferece apoio psicológico, assistência alimentar e não alimentar, bem como ajuda financeira para auxiliar as famílias com suas despesas diárias, medicamentos e educação infantil. 

“Trabalhar no programa de Resposta à Emergência na Aldeias Infantis SOS foi minha primeira experiência profissional, após vários estágios em ONGs e em centros comunitários. Considero o meu trabalho uma missão e, o mais importante, é baseado no "amor". É uma das razões pelas quais sou capaz de atuar de maneira positiva e paciente. Contactar as famílias, dando-lhes apoio, orientação e não apenas dinheiro, ajudando-as a enfrentar adversidades, encontrar soluções, construir resiliência e criar redes com recursos adicionais, como encaminhamento para outras ONGs quando necessário, são algumas das tarefas que desempenho no programa”, relata a assistente social Cherine Zaydan

De acordo com o psicólogo do programa de emergência, Michel Haddad, a assistência psicológica ajuda as famílias a aceitarem e a lidarem com as perdas sofridas nos últimos meses, além de enfrentarem os vários desafios nos aspectos econômicos, sociais e de saúde. “Nossos principais objetivos eram melhorar os mecanismos de enfrentamento para crianças, adolescentes e pais, ajudando as famílias a construírem resiliência emocional. Também queríamos ajudar a resolver conflitos familiares e aumentar a consciência dos pais sobre as questões enfrentadas por seus filhos.”, ressalta o profissional. 


A esperança por um futuro melhor 
 


Rawan* é uma dona de casa e mãe de três filhas, Laila, 16, Farah, 13, e Ilham, 9. Seu marido Imad, costumava trabalhar em uma equipe de segurança de uma fábrica. A vida da família mudou drasticamente após a explosão do porto de Beirute.   

Eles vivem a poucos quilômetros do local. Em 4 de agosto, por volta da hora da explosão, Rawan e suas filhas estavam em casa se preparando para uma festa de despedida de solteira. O pai não estava em casa no momento. Por volta das 18 horas, elas ouviram o som de um avião após a primeira explosão. Quando a mãe e suas filhas corriam para escapar de casa, a segunda grande explosão aconteceu. Uma janela da casa foi destruída e estilhaços de vidro atingiram o rosto de Laila. Rawan virou-se e encontrou sua filha mais velha deitada no chão inconsciente, rodeada de poeira e escombros. 

"Não estávamos entendendo o que tinha acontecido, era como se estivéssemos drogadas", disse Rawan.  

Quando Imad voltou para casa, ele tentou encontrar atendimento médico para Laila em vários hospitais, mas não pôde, devido às destruições maciças nestes locais e às muitas pessoas feridas que chegavam. Finalmente, ele conseguiu uma vaga em um hospital fora de Beirute, onde ela teve seus ferimentos tratados. Até abril de 2021, a jovem teve que passar por várias operações no rosto, nos olhos e no nariz. Ela está melhor agora e espera-se que seja submetida a outra operação em setembro de 2021.  

Além da situação de Laila, Imad perdeu seu emprego, já que a fábrica onde trabalhava foi destruída na explosão. 

As repercussões emocionais também foram enormes. Durante muito tempo após a tragédia, sua filha Farah não conseguia dormir; ela costumava dizer à família: "Você vai dormir e eu vou cuidar de você". Ilham, a mais nova, costumava se agarrar às roupas de sua mãe, recusando-se a deixá-la, mesmo quando ela ia dormir. Laila grita cada vez que ouve o som de um avião; chegando a desmaiar uma vez. 

Desde março de 2021, a família participa do Programa de Resposta à Emergência da Aldeias Infantis SOS no Líbano, e tem recebido assistência financeira para cobrir o aluguel, as necessidades básicas e as despesas médicas de Laila, além do apoio psicológico ofertado pela equipe da organização.  

"Por meio do programa, conseguimos pagar o aluguel da casa e outras despesas de Laila". Além disso, as sessões de psicologia ajudam a elevar o moral e o espírito de todas as minhas filhas, especialmente da mais velha", diz Rawan.  

Laila gosta de jogar futebol e está esperando para ser inscrita no time de uma ONG da cidade. "Eu gostaria de me tornar uma treinadora de jogadores de futebol profissional", diz ela.  

"Minha esperança para minhas filhas é que a situação se resolva pacificamente no Líbano, que possamos educá-las bem e que Laila compense seu ano escolar perdido", diz Rawan. "Espero que elas sejam capazes de realizar seus sonhos neste país", acrescenta ela.   

“A vida não é nada sem esperança". A família mantém este ditado como um lembrete para seguir em frente. A Aldeias Infantis SOS também está apoiando Imad para iniciar um novo negócio para ajudá-lo a sustentar a família, para que eles possam se tornar mais independentes. 

*Nomes foram mudados para proteger a privacidade da família. 

Nossa atuação em emergências 
                                                                      

 

As crianças são mais vulneráveis ​​durante uma emergência. Quando ocorre uma situação assim, a Aldeias Infantis SOS age rapidamente para cuidar e protegê-las. Com nossa presença global e local de longo prazo, protegemos seus direitos e ajudamos a manter as famílias unidas. Ficamos o tempo que for necessário para ajudá-los a superar a emergência e reconstruir suas vidas. Nossas equipes de resposta a emergências já atuaram em mais de 160 situações humanitárias em todo o mundo.  

No Brasil, trabalhamos fortemente com as famílias venezuelanas que chegam ao nosso país em busca de melhores condições de vida. Em parceria com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), desde 2018, nossa organização já apoiou mais de 2 mil pessoas, impactando diretamente em sua autonomia e desenvolvimento no Brasil. Com a pandemia da COVID-19, desenvolvemos diversas campanhas humanitárias para mitigar as consequências do vírus e apoiar milhares de famílias e crianças nas 31 localidades onde atuamos. 

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