setembro 10 2021

Gardenia, uma mulher que se reinventa no Brasil

Fugindo da crise econômica na Venezuela, hoje ela começa seu próprio negócio em Belém 

 

Gardenia Cooper Queiroz (31) chegou ao Brasil em 2019. Depois de quase um dia de viagem de ônibus da Venezuela, e mais algumas horas de caminhada, ela e seu companheiro finalmente pisaram em solo brasileiro, em Pacairama (RR). 

O primeiro desafio da empreendedora, que trabalhava com gastronomia em seu país, foi encontrar seus 4 filhos, de 7 a 14 anos de idade, que já estavam em Boa Vista (RR) com o pai, mas não sabia onde. Sem vê-los há quatro meses, quando a procura finalmente acabou e pode matar a saudade das crianças, a cena foi digna de filme: A mãe e os filhos correram para se abraçar, em um misto de alegria, lágrimas e alívio.

Depois de um mês na cidade, Gardenia conseguiu partir com as crianças e seu companheiro, foram para Manaus (AM). Lá, as dificuldades também foram muitas. Sobrevivendo com a venda de água nos semáforos e com a ajuda de pessoas desconhecidas, a família lutava para conseguir o mínimo, sem perspectivas de oportunidades, principalmente com as barreiras da pandemia. Assim, decidiram ir para Belém (PA), onde chegaram sem dinheiro e sem um lugar para dormir. 

Nas ruas, eles souberam de uma comunidade Warao, etnia indígena venezuelana da qual a família faz parte, por meio de um venezuelano que já vivia neste espaço, e decidiram buscar uma moradia no local. Lá, encontraram um novo lar e começaram a receber apoio de organizações, como a Aldeias Infantis SOS, que atuam com refugiados e migrantes na cidade.

Já na comunidade, Gardenia soube do projeto Empoderando Refugiados Warao e Migrantes da Venezuela para Proteger suas Comunidades contra COVID-19, realizado pela Aldeias Infantis SOS em parceria com o ACNUR. Com interesse em participar da iniciativa, ela foi até o espaço da organização em Belém, onde realizou uma entrevista com a equipe, que explicou o projeto e o papel de uma Mobilizadora Social. Aprovada com pelos entrevistadores, ela atua de forma voluntária e se orgulha de seu trabalho.

“Apoio o projeto faz três meses. Eu repasso as informações da comunidade Warao para a equipe da Aldeias Infantis SOS, que promove a assistência necessária, de acordo com as demandas das famílias”, conta ela. Por meio da iniciativa, Gardenia também recebe cartão alimentação, acesso aos serviços essenciais de saúde e de assistência social, documentação, escola para as crianças, apoio a inserção laboral e formações.

Seu próprio negócio 
 

Trazendo o sabor de sua terra natal para o Brasil, a venezuelana vende empanadas na cidade de Belém, no Pará. Na pequena casa que comporta ela, o companheiro e os seus quatro filhos, prepara o salgado típico com recheio de carne e frango, com um toque abrasileirado: farinha de cuscuz.  

Na Colômbia e na Venezuela, o quitute é feito com Harina Pan, uma massa a base de milho, utilizada também nas famosas tortillas e arepas. No Brasil, logo encontrou uma solução. “No começo, não sabia como ia fazer, pois precisava dessa farinha que não tem aqui. Foi quando eu descobri que o cuscuz também é a base de milho e resolvi tentar. Acabou dando certo!”, relembra a cozinheira. 

Com gosto pela cozinha desde pequena, Gardenia já tinha trabalhado com gastronomia em seu país e sempre gostou de transformar ingredientes em pratos cheios de sabor. Para as empanadas, amassa o cuscuz com água quente, com um pouco de sal e açúcar. Além das empanadas, prepara pastel e bolos. 

Agora, para expandir os negócios, quer investir em mais equipamentos: fritadeiras, caixa térmica, uma geladeira maior, entre outros itens. “Com uma fritadeira grande, poderia fazer mais de uma vez e gastaria menos tempo. Com um bom armazenamento térmico, poderia manter todas as empanadas quentinhas e vender ainda mais saborosas nas ruas”, conta. 

Para o futuro, a empreendedora sonha em ter sua própria casa e um trabalho estável. Nós estamos na torcida e continuaremos apoiando essa grande mulher e sua família em busca de sua autonomia em nosso país! 

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