Faltam locais para crianças brincarem

A pesquisa mostra que espaços públicos para brincar são ruins

O mês de outubro, no Brasil, é marcado pela comemoração do Dia das Crianças. Comumente, os adultos associam associar a data ao comércio, à busca por brinquedos para se presentear. É, nesse mês, que as prateleiras dos grandes magazines se esvaziam, enquanto as opções de lazer para o dia permanecem em segundo plano, até porque não existem tantos espaços gratuitos.

Dados da “Pesquisa Viver em São Paulo – Criança”, feita pela Rede Nossa São Paulo em parceria com o Ibope, na capital paulista, mostram que ainda há lacunas para áreas de lazer gratuitas para os pequenos.

De acordo com a pesquisa, a qualidade dos espaços de lazer e convivência dos CEUs (Centros de Artes e Esportes Unificados) é boa ou ótima para 34% dos paulistanos e ruim ou péssima para 16%. Parques e praças são bem avaliados por 20% e mal avaliados por 30%.

Os parquinhos públicos receberam a pior classificação do paulistano: 40% dizem que a qualidade é ruim ou péssima e 20% que é boa.

"Fica evidente que o paulistano entende que São Paulo é uma cidade pouco acolhedora para as crianças. Infelizmente são apenas destaques negativos que a pesquisa traz e que reforça o que já sabíamos que ainda há muito a fazer na cidade de São Paulo para a primeira infância", disse o gestor da Rede Nossa São Paulo, Américo Sampaio.

Segundo ele, crianças que crescem em uma cidade que não consegue garantir qualidade de vida na primeira infância são extremamente prejudicadas em sua formação até a idade adulta, porque normalmente se garante um bom crescimento para os setores da classe média e elite e não se dá atenção para as crianças da periferia e as mais pobres.

“Faltam políticas públicas que priorizem as crianças da periferia, negras e mais pobres. Para resolver esse cenário, é preciso ter uma cidade que prioriza a criança em detrimento das outras parcelas da população no orçamento público, no investimento, na gestão das políticas públicas. Para todas as áreas precisaria ter um trabalho de começar as políticas públicas pela criança e depois olhar para os diferentes extratos da sociedade”, disse Sampaio.

O ato de brincar
É através do simples ato de brincar, iniciado já na primeira infância, fase que vai de zero a seis anos, que os pequeninos começam a se relacionar com o ambiente ao seu redor. Ter acesso a praças, parques e outros espaços públicos representa, também, o exercício da cidadania. A garantia desse direito está determinada no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei Federal nº 8.069/90. Em seu artigo 59, do capítulo IV, o ECA preconiza que "os municípios, com apoio dos Estados e da União, estimularão e facilitarão a destinação de recursos e espaços para programações culturais, esportivas e de lazer voltadas para a infância e a juventude".

A consciência desses direitos e deveres surge nesses ambientes extra-familiares, quando a criança começa a construir, com a prática, a sua personalidade. Para a psicóloga do Serviço de Psicologia Escolar da Universidade de São Paulo (USP), Yara Sayão, a importância do brincar é essencial por vários aspectos. É no brincar que a criança aprende e apreende o mundo a sua volta. Ela vai interagir com o objeto (brinquedos ou brincadeiras), ou com crianças da mesma idade, que possui um universo cognitivo diferente do seu.

Yara coloca que, quando a criança reproduz suas brincadeiras mais usuais, como a contação de histórias, ela vai tentando compreender o universo adulto e vai internalizando o mundo.

"A criança vai se constituindo, trabalhando conhecimentos para sua constituição subjetiva, por dentro. A importância é imensa, imprescindível. Mesmo uma criança não tendo acesso a questões da modernidade, as possibilidades de aprendizagem são infinitas", avaliou a psicóloga Yara Sayão. 

Para Sayão, qualquer que seja a atividade tem um peso importante para o aprendizado infantil. De acordo com ela, atingem, de maneira direta, o desenvolvimento cognitivo, social, físico e até mesmo emocional. Para crianças que brincam, desde a pré-escola até o início da adolescência, os ganhos aparecem em questões como as relações pessoais, o vasto vocabulário, e a coordenação motora.