Ecoa UOL – novembro 28 2021

Projeto acolhe adolescentes grávidas em situação de vulnerabilidade

Andressa Caroline, hoje com 21 anos, havia perdido o vínculo familiar e vivia em um serviço de acolhimento quando engravidou, aos 17. Com a gestação não planejada, foi encaminhada aos cuidados de uma casa especializada em abrigar jovens como ela para receber assistência médica e acompanhamento nas consultas de pré-natal, em Campinas (SP). Além do apoio médico, ela teve a oportunidade de fazer aulas de informática, inglês e outros temas que a ajudaram a estar mais qualificada para o mercado de trabalho. Hoje, mora com o pequeno Noah Miguel, de 4 anos, trabalha como manicure em um salão e tem o sonho de ser formar como advogada.

"Recebi todas as orientações necessárias para me tornar mãe", conta a jovem, relembrando o período em que foi acolhida na Casa Lar. "O centro para adolescentes grávidas havia sido inaugurado no ano de 2016 e, de lá para cá, diversas outras jovens mães puderam exercer seu direito à maternidade e contar com a ajuda de "mães sociais". O termo é usado para as profissionais que são responsáveis pelo cuidado, afeto, educação e saúde das adolescentes e seus filhos. Além de orientar cada uma das jovens em sua individualidade, elas são corresponsáveis pelo seu desenvolvimento e colaboram para o acompanhamento do pré-natal, o nascimento dos bebês e os primeiros cuidados com a criança.

O projeto surgiu a partir de uma demanda que em números representa 54,2 mil mães no Estado de São Paulo. Segundo dados da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), um em cada sete bebês nascidos no Brasil é filho de uma jovem com idade entre 10 e 19 anos. Em 2020, 23,4% do total de nascidos vivos no país eram filhos de mães adolescentes. Apesar de o índice apresentar uma queda de 48% em relação à última década, ainda é alto e está acima da média mundial, de acordo o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA).

Ciente dos desafios que as jovens enfrentam durante a gestação e para cuidar das crianças, principalmente em casos em que não existe apoio familiar, a Aldeias Infantis SOS, organização internacional de cuidado direto à criança e ao adolescente que atua há 54 anos no país, criou o centro de acolhimento especializado em jovens órfãs que estão gestantes. A Casa Lar tem capacidade para 10 meninas por vez e as vagas são preenchidas de acordo com o direcionamento de organizações públicas, como Conselho Tutelar e Ministério Público.

"A iniciativa nasceu da necessidade vista pela Prefeitura de Campinas ao identificar o alto índice de acolhimento de bebês recém-nascidos, direto da maternidade. Em 2015, ocorreram 18 acolhimentos neste cenário no município. Com o nosso projeto, no ano seguinte este número caiu para cinco", diz Jorge Dantas, 60 anos, gestor territorial da Aldeias Infantis SOS responsável pelos projetos ativos na ONG nos polos da região de Campinas.

'Contato com as mães e as crianças me fez renascer' A trajetória de Dantas teve início em 2000, no Rio de Janeiro, na Aldeias Infantis SOS de Pedra Bonita e de Jacarepaguá, como estagiário. Em seguida, foi para Juiz de Fora, em Minas Gerais, onde permaneceu até 2004, retornando depois para o Rio de Janeiro. "Até hoje tenho contato com as crianças e jovens daquela época", recorda, evocando boas lembranças.

"Passei um período fora da Aldeias e retornei para Lauro de Freitas, na Bahia. Posso dizer que renasci com o contato direto novamente com as crianças, as mães e a equipe." A transferência o levou ao interior de São Paulo — inicialmente Caçapava e depois Campinas. Em Campinas, ficou responsável por gerenciar uma equipe grande e repleta de desafios. "Hoje temos um time bem solidificado e a Aldeias Infantis SOS é uma referência."

Acompanhamento

A Casa Lar atua desde o processo da gestação, período em que é trabalhada a maternagem e vinculação mãe-bebê. Após o nascimento da criança, o centro oferece apoio nos cuidados na primeira infância, amamentação e projetos de vida.

A equipe técnica que acompanha o serviço é responsável por encaminhar as jovens mães para cursos profissionalizantes de acordo com o seu nível de desenvolvimento educacional, emocional e psicológico. Ela também está apta a identificar talentos individuais. O serviço tem ainda uma equipe multidisciplinar formada por psicólogo, assistente social e pedagogo. "Para atendimento terapêutico buscamos psicólogos voluntários", diz.

"A avaliação que nós fazemos desses cinco anos é que a Casa Lar tem sido fundamental para garantir o cuidado materno na primeira infância. As adolescentes que por aqui passaram puderam se desenvolver individualmente e como mães", resume Jorge.

 

Matéria publicada pelo ECOA UOL