abril 4 2024

Seminário discute políticas para jovens egressos de serviço de acolhimento

Realizado em Belo Horizonte (MG), o evento reuniu jovens egressos de 20 estados brasileiros e outros países da América Latina 

 

 

Um ato de coragem. Essa, talvez, seja a melhor definição para resumir a participação de dezenas de jovens egressos que participaram do Seminário Minha Vida Fora Acolhimento, realizado entre os dias 20 e 22 de março, em Belo Horizonte (MG), pelo Movimento Nacional Pró Convivência Familiar e Comunitária, o qual a Aldeias Infantis SOS faz parte.  

Durante três dias, egressos dos serviços de acolhimento institucional e acolhimento familiar de 20 estados brasileiros e até de outros países, como Argentina e Paraguai, puderam expor suas cicatrizes e atuaram como verdadeiros protagonistas do Seminário, que rendeu, como fruto principal, uma declaração, assinada por eles, e entregue aos representantes do Sistema de Garantia de Direitos presente, incluindo membros do Governo Federal

Declaração reúne uma série de reinvindicações que traduzem os desafios enfrentados pelos jovens egressos, que agora atuam em prol daqueles que ainda se encontram em acolhimento. Atendimento psicológico clínico constante, acesso à programas habitacionais, suporte financeiro, atendimento psicosocial estendido à família são alguns dos temas que permeiam o documento. 

 

 

A apresentação e leitura do documento foi um dos pontos mais marcantes do evento. Durante a última mesa do Seminário, que justamente discutia as políticas públicas em prol da juventude egressa, os jovens promoveram uma intervenção artística ao som da música Amarelo, Azul e Branco, da dupla AnaVitória. Um dos trechos da canção diz “eu vim pra te mostrar a força que eu tenho guardado. O peito tá escancarado e não tem medo não”, que representa bem o sentimento dos egressos dando voz às suas reinvindicações.  

A jovem Vitória Beatriz Vicente Albino, de 18 anos, moradora da República de Jovens da Aldeias Infantis SOS em Limeira (SP), participou deste momento e pode ir ao púlpito ler um trecho da declaração, que teve a leitura dividida entre outros egressos. Para ela, foi um privilégio poder participar deste momento e representar milhares jovens egressos ou que ainda se encontram em serviços de acolhimento.  

 

 

“Foi uma experiência incrível. Me senti ouvida e orgulhosa por poder representar tantos jovens. Foi um privilégio para mim, entre tantos adolescentes em acolhimento, ser escolhida para ir até lá e falar em nome da Aldeias Infantis SOS. Agradeço muito por essa oportunidade”, ressalta Vitória

Esse protagonismo juvenil ressalta a importância do Seminário na opinião de Sérgio Marques, sub-gestor nacional da Aldeias Infantis SOS, porque registra o engajamento dos jovens, discutindo questões que impactam a vida de milhares de pessoas em acolhimento no Brasil atualmente.  

Precisamos ouvir as vozes desses jovens, devido a invisibilidade deles diante do momento de saída do serviço de acolhimento. O quanto eles são preparados ao longo da sua jornada para esse momento diante das políticas públicas existentes?”, questiona Sergio.  

 

 

Já para o coordenador nacional de Juventude da Aldeias Infantis SOS, Roney Assis, o Seminário foi uma grande oportunidade para reunir os diversos atores do Sistema de Garantia de Direitos e promover o debate das pautas apresentadas pelos jovens.  

“É um problema complexo, porque muitas vezes, os jovens precisam encarar a vida fora deste ambiente de cuidado, que são os serviços de acolhimento, sem acesso às políticas públicas para apoiá-los", complementa Roney de Assis.  

 

 

Egressos no Brasil 

Em maio de 2023, a Aldeias Infantis SOS apresentou, por meio do Instituto Bem Cuidar, o resultado da pesquisa nacional “Vozes (in)escutadas e rompimento de vínculos: pesquisa sobre crianças e adolescentes em cuidados alternativos, egressos/as e risco a perda de cuidado parental no Brasil”, um relatório sobre as condições de vida e o acesso a direitos de crianças e adolescentes

O documento indica que 32 mil crianças e adolescentes estão afastados do convívio familiar e em situação de acolhimento, sendo mais de 80% concentrados nas regiões Sudeste e Sul do país. Conforme a pesquisa, a faixa etária é diversificada, sendo 25% delas com idade entre 0 e 5 anos, 27% entre 6 e 11 anos, 44% entre 12 e 17 anos e 5% com 18 anos ou mais.  

O estudo, realizado entre novembro de 2022 e março de 2023, abrange todas as regiões do país, incluindo 23 estados, o Distrito Federal e mais de 200 municípios. Durante esse período, foram ouvidos mais de 350 crianças e adolescentes sob a guarda do Estado, acolhidos em casas lares e abrigos públicos e de organizações não-governamentais. 

 

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